Autor: Maria Valéria Rezende
Edição: Editora Alfaguara, 2014.
Maria
Valéria Rezende é escritora paulista natural de Santos e também faz parte da Congregação
de Nossa Senhora, Cônegas de Santo Agostinho. Apoiou a luta contra a ditadura
militar e dedicou-se ativamente, durante muitos anos de viagem pelo país, à
educação popular e, por fim, escolheu Pernambuco como lar. Escreve tanto para
crianças quanto para o público adulto, e suas obras já foram premiadas pelo
prêmio Jabuti nas duas categorias. Quarenta
dias foi premiado na categoria romance e livro do ano em 2015.
O
romance, escrito na forma de diário, acompanha Alice. Professora de francês aposentada,
Alice leva uma vida relativamente independente na cidade de João Pessoa, até
que uma visita de sua filha muda tudo. Decidida a ter um filho, Norinha, que
mora em Porto Alegre, organiza a mudança de sua mãe sem levar em conta sua
rejeição à ideia, pois precisa de sua ajuda para manter sua carreira como
professora universitária.
As
tentativas de resistência de Alice são fúteis e logo ela se encontra no moderno
apartamento montado por sua filha, com uma organização que lhe é estranha e
seus objetos pessoais fora de seu domínio. Em meio a nova rotina, uma conhecida
pede informações sobre um jovem pernambucano que mudou-se para POA e não deu
mais notícias. Alice decide partir em busca de informações na cidade que pouco
conhece.
Sua
aventura começa despretensiosamente, mas logo percebemos que, mais do que
procurar o jovem, a protagonista deseja fugir da situação em que está e poder
ser livremente: entra em bairros pobres, em favelas cheias de nordestinos como
ela, conta com a caridade dos outros, dorme na rua, conhece os meandros da vida
dos sem lar e, durante quarenta dias, na companhia de edições baratas de
clássicos e de um caderno com capa da Barbie, sua interlocutora, Alice tenta
por meio de sua narrativa lidar com o estranhamento que sente em relação à
própria filha usando o desespero de outra mãe como justificativa.
Maria Valéria Rezende usa bem os
recursos que escolhe, dosando quando usar a complicada “reprodução” de diálogo
que por vezes destrói o efeito de narrativas em primeira pessoa do tipo e
alcançando um resultado bastante convincente. A voz de Alice é clara e
representa bem sua posição social de mulher estudada e o tom despretensioso da
narradora vai aflorando para revelar seus conflitos internos. A intensa viagem
de Alice aos confins de Porto Alegre a aproxima de suas origens e revelam com
sensibilidade tocante a solidariedade entre aqueles cuja existência é uma
constante batalha.Nota: ♥♥♥♥
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