Autor: Elizabeth Gaskell
Tradução: Carlos Duarte e Anna Duarte
Edição: São Paulo: Martin Claret, 2015.
Norte
e Sul surgiu como um folhetim em 1845, na Household Words, revista cujo editor era
Charles Dickens e, em 1855, foi revisto e publicado em sua forma final.
Elizabeth Gaskell é um nome indiscutivelmente relevante da literatura da Era Vitoriana
e em seu romance há uma clara preocupação com entender as relações sociais de
forma a solucionar seus conflitos.
Margaret
Hale é uma jovem de família com certo status
social e viveu boa parte de sua infância e adolescência em Londres, com uma tia
rica. Apesar disso, sua família possui meios mais limitados uma vez que o
casamento de sua mãe com um paróco foi financeiramente desvantajoso e motivado
pela afeição genuína. Ao retornar para o interior, descobre que o ídilio
bucólico com o qual fantasiava tanto, Helstone, logo será abandonado: a fé de
seu pai oscila e ele decide abandonar seu cargo como pastor. A única
alternativa para a família é mudar-se para o poluído e industrial Norte, mais
especificamente a fícticia cidade de Milton.
Lá,
Margaret vê seus recursos financeiros escassos e seu círculo social
extremamente limitado. Motivada por suas obrigações filiais, Margaret busca
apaziguar o gênio difícil da sua mãe e ser compreensiva com seu pai, apesar de
sentir dificuldades em aceitar seus questionamentos religiosos. Ele trabalha
agora como professor e logo trava uma amizade com Mr. Thorton, industrial da
área que deseja retomar os estudos dos clássicos abandonados devido às demandas
do trabalho. Thorton é bem sucedido, obstinado e perspicaz e logo passa a
frequentar a residência dos Hale.
Apesar
de perspicaz, Thorton não parece ser o suficiente para entender que suas constantes
discussões com a filha de seu professor não são mero flerte e que o interesse
de Margaret não é alimentado pelas visões de mundo contrastantes que os leva a
discutir. A principal tese do romance, expressa pela sua personagem central, é
a crença na conciliação entre a classe trabalhadora e os detentores dos meios
de produção por meio da atitude cristã de olhar pelo outro e tratá-lo com
dignidade, reconhecendo a situação de dependência em que ambos se encontram,
enquanto Thorton considera absurdo prestar conta de seus planos e visões com
qualquer pessoa.
Enquanto
uma greve dos trabalhadores ocorre em Milton, a doença de Mrs Hale aflige a
família de Margaret. Tanto Thorton quanto Margaret acabam tornando-se um para o
outro uma fonte de apoio quando menos esperam, embora um episódio em que o
injustiçado irmão de Margaret visita escondido a família para despedir-se da
mãe – certamente um lembrete de Gaskell de que as autoridades não são inquestionáveis
– e a lembrança da primeira rejeição torturam os sentimentos de Thorton, mas
também cimentam o relacionamento.
Margaret
é uma mocinha sofredora, como manda o figurino. É também de inteligência viva e
princípios que despertam o respeito de todos à volta, o que impede que o romance
caía no marasmo mesmo quando as reviravoltas são manipulativas, uma vez que o
foco da narrativa em terceira pessoa está principalmente em seus pensamentos e
sentimentos. A análise social proposta pelo romance é limitada, no entanto,
pela insistência na solução religiosa – embora a figura de Mr. Hale e seus
conflitos insinue uma redenção dessa falha, o destino para o qual ele encaminha
sua família deixa clara a lição de moral planejada pela autora.
Um
típico romance social da Era Vitoriana, Norte
e Sul garantiu, indiscutivelmente, o lugar de sua autora na História da
Literatura britância e vale a leitura para quem busca conhecê-la.
Nota: ❤❤❤
Eu li Cranford dela e também gostei, assim como as séries da BBC. Recomendo!
ResponderExcluirLi "Norte e Sul" pensando em ver a adaptação da BBC depois! Adoro as adaptações de clássicos deles!
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