Autor: Antonio Prata
Edição: Companhia das Letras, São Paulo: 2013. 1ª edição.
Antonio
Prata é escritor paulista. Versátil, trabalha com roteiros para cinema e
televisão além de uma coluna na Folha de São Paulo. Já publicou uma coletânea
de crônicas chamada Meio intelectual,
meio de esquerda cujo título é o mesmo de um de seus textos mais. Em Nu, de botas, Prata apresenta
reminiscências de sua infância na São Paulo dos anos 80 de forma bem humorada.
Com
mais jeito de livro de memórias do que qualquer outra coisa, a obra é
catalogada como uma coleção de crônicas e, embora todos os textos funcionem
individualmente, a leitura completa obedecendo a ordem apresentada na edição é
definitivamente a mais proveitosa. Alguns personagens e episódios são
recorrências discretas, tornando-se espécie de running gags - piadas cujo efeito cômico torna-se cumulativo com
sua repetição constante, mais comuns à linguagem cinematográfica e da televisão
do que à literária.
As
crônicas são leves, engraçadas, abordadas com o intuito de explorar o ponto de vista do Antonio criança
(ficcionalizado, é claro). Tratam de pequenos eventos marcantes – as
brincadeiras das crianças do bairro, o divórcio dos pais, a alfabetização, os
animais de estimação, a chegada da irmã – conseguindo um equilíbrio
impressionante entre a consciência do exagero infantil e o entendimento que ele
é fruto do estranhamento do mundo que a infância proporciona.
Merecem
destaque “Ca ce ci co çu”, brilhante reflexão linguística sobre o poder
subversivo de algumas palavras na visão infantil que cria uma divertida quebra
de expectativa para o protagonista e “Banhos”, um hilário episódio de
descoberta assombrosa sobre a sexualidade.
Antonio
Prata consegue segurar o tom leve de sua obra e raramente derrapa para um humor
mais crasso – mesmo navegando no universo infantil onde o humor escatológico,
por exemplo, é tão recorrente. O ponto baixo é, sem dúvidas, “Patos”, que tenta
trazer humor para um momento que revela um pouco mais do que a simples
ignorância infantil que seu autor coloca em primeiro plano.
Apesar
disso, é inegável a competência de Antonio Prata e suas reminiscências sobre a
infância são particularmente agradáveis para aqueles que viveram os anos 80.
Nota:♥♥♥
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