sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Nu, de botas, Antonio Prata

Título: Nu, de botas
Autor: Antonio Prata
Edição: Companhia das Letras, São Paulo: 2013. 1ª edição.

            Antonio Prata é escritor paulista. Versátil, trabalha com roteiros para cinema e televisão além de uma coluna na Folha de São Paulo. Já publicou uma coletânea de crônicas chamada Meio intelectual, meio de esquerda cujo título é o mesmo de um de seus textos mais. Em Nu, de botas, Prata apresenta reminiscências de sua infância na São Paulo dos anos 80 de forma bem humorada.
            Com mais jeito de livro de memórias do que qualquer outra coisa, a obra é catalogada como uma coleção de crônicas e, embora todos os textos funcionem individualmente, a leitura completa obedecendo a ordem apresentada na edição é definitivamente a mais proveitosa. Alguns personagens e episódios são recorrências discretas, tornando-se espécie de running gags - piadas cujo efeito cômico torna-se cumulativo com sua repetição constante, mais comuns à linguagem cinematográfica e da televisão do que à literária.
            As crônicas são leves, engraçadas, abordadas com o intuito de  explorar o ponto de vista do Antonio criança (ficcionalizado, é claro). Tratam de pequenos eventos marcantes – as brincadeiras das crianças do bairro, o divórcio dos pais, a alfabetização, os animais de estimação, a chegada da irmã – conseguindo um equilíbrio impressionante entre a consciência do exagero infantil e o entendimento que ele é fruto do estranhamento do mundo que a infância proporciona.
            Merecem destaque “Ca ce ci co çu”, brilhante reflexão linguística sobre o poder subversivo de algumas palavras na visão infantil que cria uma divertida quebra de expectativa para o protagonista e “Banhos”, um hilário episódio de descoberta assombrosa sobre a sexualidade.
            Antonio Prata consegue segurar o tom leve de sua obra e raramente derrapa para um humor mais crasso – mesmo navegando no universo infantil onde o humor escatológico, por exemplo, é tão recorrente. O ponto baixo é, sem dúvidas, “Patos”, que tenta trazer humor para um momento que revela um pouco mais do que a simples ignorância infantil que seu autor coloca em primeiro plano.
            Apesar disso, é inegável a competência de Antonio Prata e suas reminiscências sobre a infância são particularmente agradáveis para aqueles que viveram os anos 80.

Nota:

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