Autor: Ricardo Lísias
Edição: Rio de Janeiro: Objetiva (Alfaguara), 2013.
Ricardo Lísias é autor brasileiro, professor, tradutor e
colaborador ocasional da Revista Piauí. Seus dois romances mais recentes, O Céu dos Suicidas e Divórcio ganharam considerável atenção
da crítica e deixaram em destaque o nome do autor.
O Céu dos Suicidas tem como personagem-narrador
Ricardo – e muita especulação esse factoide despertou. Especulação inútil,
diga-se de passagem. O aspecto autobiográfico é interessante, mas é um beco sem
saída: não apresenta respostas. É, no entanto, compreensível que o leitor fique
interessado por essa questão, uma vez que ela é menos desconcertante do que o
verdadeiro beco sem saída que o Ricardo personagem encontra: como lidar com o
suicídio em uma sociedade de valores judaico-cristãos.
Ricardo
abriga temporariamente André, seu amigo dos tempos de faculdade, em sua casa.
André sofre com problemas psicológicos desde que ambos se conheceram pela
primeira vez. Seu comportamento acaba enfurecendo Ricardo – que tenta ser
paciente mas, como vemos ao longo do romance, tende a expressar seus sentimentos
por meio da raiva – que expulsa seu amigo. Alguns dias depois, Ricardo fica
sabendo que André se suicidou. Ricardo é chamado para prestar depoimentos por
ter sido a última pessoa a ver o amigo antes de sua morte.
O
protagonista é colecionador profissional e obcecado com informações. André
torna-se mais uma de suas obsessões e, ao longo do livro, vemos Ricardo
catalogar mentalmente informações e memórias sobre o amigo e sobre si mesmo conforme
atravessa o período de luto. A dificuldade de aceitar a condenação do suicídio
por parte dos religiosos atormenta-o profundamente. Agressivo e autodestrutivo,
Ricardo distancia-se da família e age de forma impulsiva até conseguir
encontrar algum tipo de resolução para a inquietude deixada pela morte de
André.
O céu dos suicidas é uma leitura
acertadamente tensa e desconfortável. A prosa econômica de Lísias é organizada
de forma a refletir os processos mentais de seu narrador que precisa perder o
controle para conseguir reconquistá-lo e constrói um retrato vivaz de como
funciona uma mente obsessiva. O autor tem uma voz própria que conduz a
narrativa com precisão e investe em uma linguagem clara e densa adequada às
reflexões profundas que propõe.
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