domingo, 4 de maio de 2014

Fahrenheit 451, Ray Bradbury



Título: Fahrenheit 451 
Autor: Ray Bradbury
Tradutor: Cid Knipel
Edição: São Paulo: Globo, 2009.


            Ray Bradbury é autor americano de romances de fantasia, horror e ficção científica. Suas obras receberam adaptações para diversas plataformas, entre elas o cinema e o teatro. Bradbury é famoso também por ter sido engajado defensor das bibliotecas públicas. Sem dúvidas é a paixão pelos livros a força motriz do enredo de Fahrenheit 451.
            O romance trata de um futuro distópico em que livros são proibidos. Nesse futuro, a função dos bombeiros é atender denúncias e queimar qualquer volume literário que tenha escapado. É encorajado, no entanto, que os cidadãos acompanhem programas aprovados e desenvolvidos pelo governo em telas imensas que permitem até mesmo a interação do espectador com os personagens e apresentadores. É assombroso que um livro publicado em 1953 consiga prever a obsessão com as telas e o consumo constante de informação – na maior parte do tempo inútil – das massas.
O livro é narrado em terceira pessoa com foco em Montag, um bombeiro que vive uma vida pacata até o dia em que, retornando do trabalho, é interpelado por sua jovem vizinha. Clarisse é, para os padrões de Montag, estranha e perigosa por ter o hábito de observar as coisas e fazer perguntas. Suas breves conversas com a jovem antes do sumiço dela – mais uma vítima da perseguição política – despertam algo que, mais tarde descobrimos, já não estava tão adormecido assim no protagonista.
Montag começa a se sentir insatisfeito com sua vida. Podemos perceber isso principalmente em seus conflitos com sua mulher, Mildred. Sua esposa é cidadã perfeita e recusa-se a discutir com Montag suas ansiedades e questionamentos. Não devemos, no entanto, assumir que ela não os tem: sua busca por alívio e alienação indicam justamente o contrário: existe uma sensação de insatisfação que permeia todo o livro, embora a maioria dos personagens não saiba articulá-la ou prefira ignorá-la por medo de represálias.
O chefe de Montag percebe as alterações em seu comportamento e decide conversar com o bombeiro, expondo o ponto de vista do governo sobre a necessidade de banir livros. A leitura, explica, não traz felicidade – pelo contrário, só faz as pessoas angustiarem-se mais perante o mundo. Além disso, os níveis de conhecimentos alcançados pelas pessoas não são sempre os mesmos, o que também as torna infelizes. É oferecida uma segunda chance a Montag, mas as respostas de Capitão Beatty não o satisfazem e é Faber, um aposentado professor de inglês conhecido por seu comportamento subversivo que começará a fazer com que Montag entenda o mundo em que vive e possa tomar uma decisão informada sobre que lado tomar.
A crítica social de Fahrenheit 451 é prejudicada por uma visão pouco clara do que é e como funcionam, de fato, censura e opressão. Também não fica claro como o universo distópico do livro consegue tanto avanço tecnológico com o conhecimento tão restrito – onde caberia uma pontual discussão da questão de classes temos uma oportunidade desperdiçada.
A prosa de Bradbury, por sua vez, é atravancada pelo uso constante de metáforas que nem sempre acrescentam informações interessantes e cujo valor lírico é questionável. O mote de Fahrenheit 451 é inegavelmente brilhante. A proposta de pensar uma sociedade em que os livros são proibidos é interessante, mas fica prejudicada pela crítica social confusa e mal informada do autor. O estilo de Bradbury peca pelo excesso, o que torna a leitura cansativa apesar do enredo movimentado.  Ironicamente, a adaptação cinematográfica do diretor francês François Truffaut faz melhor proveito da ideia central de Fahrenheit 451

Nota: ♥♥♥
 

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