Título: Mrs Dalloway
Autor: Virginia Woolf
Tradução: Claudio Alves Marcondes
Editora: Cosac Naify
Edição: 2ª edição, São Paulo, 2013
Virginia Woolf é uma das mais importantes escritoras do
Modernismo e sua obra uma das mais relevantes produções literárias do século
XX. Entre romances, uma peça de teatro, diários, contos e ensaios, Mrs Dalloway recebe destaque como uma de
suas principais realizações.
O romance,
que conta com uma das frases iniciais mais famosas da Literatura – “Mrs Dalloway
disse que ela mesma iria comprar as flores” –, é uma obra densa, que impressiona
pela precisão técnica de sua realização. Todo o enredo se passa durante um dia
de junho de 1932 em que Mrs Dalloway está oferecendo uma importante festa para
a alta sociedade londrina. Clarissa é uma mulher relativamente limitada: não
possui habilidades das quais se orgulha, como tocar piano ou mesmo ser uma grande
leitora, mas considera-se uma excelente anfitriã. E, como boa anfitriã, é ela
que nos guia pela narrativa, permitindo que conheçamos os personagens que
gravitam em sua órbita – Peter Walsh, sua paixão da adolescência e um dos
personagens mais destacados, obcecado com a juventude e com a própria Clarissa;
Sally Seton, uma amiga por quem Clarissa nutria sentimentos de tom romântico e
que é lembrada como uma jovem cheia de vida e rebeldia, mas acaba se tornando
uma dona de casa; Richard Dalloway, seu prático, sensato, mas também distante
marido e Elizabeth, a filha do casal com inclinações políticas instiladas por
sua tutora, a rígida e religiosa Miss Killman. Em paralelo também somos
apresentados ao veterano da Primeira Guerra Mundial que sofre sequelas psicológicas,
Septimus Warren Smith e sua mulher, a jovem e estrangeira Lucrezia.
Septimus é um dos personagens mais importantes
da narrativa, porém em momento algum existe um encontro direto entre ele e
Clarissa. O momento em que ela toma consciência de sua existência é, no
entanto, um dos mais pungentes da narrativa e nos permite entrever um mundo
privado de Mrs Dalloway, que ela tanto se esforça para reprimir, quase se
libertando... mas sendo, por fim, aquietado – pelo menos até onde o brusco
encerramento permite saber.
Os recursos narrativos são
inovações interessantes, trabalhando uma multiplicidade de personagens que ora
são examinados com certo afastamento por um narrador onisciente, ora são
expostos criticamente e por vezes tem seus pensamentos internos apresentados ao
leitor por meio do uso de fluxo de consciência. Essa mudança de estratégia
narrativa é feita sem nenhuma indicação ao leitor e exige atenção, mas também se
apresenta com espantosa naturalidade. As personagens constantemente refletem
umas sobre as outras, permitindo ao leitor uma interessante sensação de que
tentativas de estabelecer uma unidade, descrição perfeita são sempre falhas, mas
ao mesmo tempo inevitáveis. A sensação de que algo escapa é uma constante.
Também é constante o uso de flashbacks, que formam uma quase segunda
narrativa da juventude das personagens, mesmo que extremamente fragmentada por
ser exposta episodicamente. Existe uma forte oposição entre o campo e a cidade
e Londres surge como uma entidade importante em Mrs Dalloway: é lugar que apresenta infinita possibilidade de
encontros e que funciona como uma âncora, um marco da realidade para um livro
que coloca em primeiro plano a subjetividade de suas personagens.
O uso brilhante da técnica
combinado com a riqueza de temas e leituras possíveis fazem com que Mrs Dalloway seja um livro que exige
muito de seu leitor – e, acima de tudo, uma vez que sua pluralidade é tão
complexa e profunda, exige de seu leitor um retorno para a obra com a promessa
de que uma simples leitura é insuficiente para compreender o intrincado
universo construído por Virginia Woolf.
Nota: ♥♥♥♥♥
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