Autor: Ana Maria Machado
Editora: Objetiva (Alfaguara)
Edição: 1ª edição, Rio de Janeiro, 2012.
Alice e Ulisses é o primeiro romance
adulto de Ana Maria Machado, reconhecida internacionalmente e ganhadora do
Prêmio Hans Christian Andersen por sua extensa obra voltada para o público
infantil. É notório também seu envolvimento com a Academia Brasileira de
Letras, a qual presidiu durante o biênio 2012/2013.
A autora
demonstra em seu romance de estreia invejável desenvoltura com a linguagem que
aparece simples, mas jamais superficial. Os papéis dos personagens principais
remetem o leitor aos grandes personagens da literatura: Alice é uma mulher
curiosa, com uma tendência a não pensar demais nas consequências de suas
explorações, mas uma inteligência aguçada. É interessante também seu
envolvimento com o universo infantil por meio da profissão de professora e seu
gosto pelos contos de fada, que surgem pontuando os acontecimentos da
narrativa. Ulisses, por sua vez, gosta da aventura e a vive com sinceridade
fervorosa, mas é incapaz de abandonar a ideia do lar como lugar para o qual
deve retornar. Cineasta famoso e respeitado, Ulisses encontra Alice – cujo
ex-marido era crítico de cinema – em um coquetel e desde então não conseguem se
desligar totalmente um do outro.
O
relacionamento é intenso e há um conflito entre as personagens que muitas vezes
reflete o conflito entre o masculino e o feminino. A própria Alice, em certo
momento, define o problema do relacionamento entre os dois como “político”,
resultado de sua condição de mulher. Ela questiona e tenta entender o motivo dessa
paixão, reclama sentir-se colonizada e esses questionamentos encaminham o livro
para seu ponto alto – curiosamente, um momento que exclui Ulisses – em que
Alice encontra-se frente a frente com a esposa de seu amante. Esse é um momento
de ruptura para Alice, que se percebe personagem em uma encenação e não aceita se manter nessa condição. Essa ruptura se dá também na narrativa que é
predominantemente em terceira pessoa, mas se encerra com um parágrafo na
primeira.
O emprego
deste recurso é particularmente interessante em face da revelação que Alice faz
a Ulisses de que está trabalhando em escrever sobre os dois, motivada por uma
necessidade de racionalizar o relacionamento e também por sentir-se vista como
personagem, como objeto de estudo de seu amante em seus filmes e ter vontade de
inverter a câmera. Uma possibilidade de leitura seria, então, a de que o
narrador em terceira pessoa onisciente que predomina o livro é uma face da
própria Alice, analisando e editando os fatos – sua libertação enquanto
narradora acontece ao mesmo tempo em que sua libertação enquanto ser humano,
sua negação de manter-se fiel à tradição esperada dos relacionamentos entre
homens e mulheres.
Se a
tradição é recusada no que diz respeito aos relacionamentos, é aceita no plano
literário. Alice e Ulisses lança mão,
sabiamente, de diversos textos clássicos e autores importantes para ancorar sua
narrativa. A escolha da linguagem marcada pelo coloquial é interessante
recurso, uma vez que evita dar ao texto um ar de pretensão, mas sim dando vida
aos diálogos e, consequentemente, aos seus enunciadores – e aí está o maior
trunfo do romance.
Nota: ♥♥♥♥
Oi, Gabriela!
ResponderExcluirRetribuindo a visita ao meu blog :)
E que coincidência, ainda ontem pensei em comprar esse livro da Ana Maria Machado na livraria :)
Gostei do comentário sobre o livro, agora vou ter que voltar lá para comprá-lo! :)
beijo,
Pipa